ATProto Browser

ATProto Browser

Experimental browser for the Atmosphere

Post

No centenário de Rubem Fonseca, editora lança box com contos do autor que fez da violência urbana um motor criativo .

May 11, 2025, 7:54 AM

Record data

{
  "uri": "at://did:plc:iddtdjw5gujvbxbzjm45wlgb/app.bsky.feed.post/3louy2u7b742c",
  "cid": "bafyreih2hsj63w6z2zie22xgzqkagtw3emqhdnch5ws57x2wrpkbmiris4",
  "value": {
    "text": "No centenário de Rubem Fonseca, editora lança box com contos do autor que fez da violência urbana um motor criativo .",
    "$type": "app.bsky.feed.post",
    "embed": {
      "$type": "app.bsky.embed.external",
      "external": {
        "uri": "http://dlvr.it/TKhXyB",
        "thumb": {
          "$type": "blob",
          "ref": {
            "$link": "bafkreidpmoyx53ci4yxjamdwqkdoj2niw2vv2n7ymsqc4iinoxgdbzrvi4"
          },
          "mimeType": "image/jpeg",
          "size": 186156
        },
        "title": "No centenário de Rubem Fonseca, editora lança box com contos do autor que fez da violência urbana um motor criativo",
        "description": "Obra do escritor, que consiste em 30 títulos, entre romances, coletâneas de contos e crônicas, se mostra, ao mesmo tempo, premonitória e atual; leia artigo Este país tropical e bonito por natureza acolhe um povo tremendamente violento — e nenhum outro escritor brasileiro soube retratar tão bem essa brutalidade e suas vertentes como José Rubem Fonseca, nascido há exatos 100 anos, em Juiz de Fora (MG). E o pior: à medida que o tempo passa, sua obra — que consiste em 30 títulos, entre romances, coletâneas de contos e crônicas — se mostra, ao mesmo tempo, premonitória e atual.\nOs relatos inspirados na psicopatia generalizada chacoalharam o meio editorial brasileiro já na estreia de Fonseca, “Os prisioneiros” (1963), coletânea com 11 contos. O primeiro deles, “Fevereiro ou março”, retrata um sujeito que se une a parceiros de academia e costuma puxar briga com outras turmas durante o carnaval — juventude transviada, versão nacional. Na sequência, “Duzentos e vinte e cinco gramas” acompanha a autópsia de uma vítima de feminicídio. E por aí vai. Parece que tudo aconteceu ontem, o que é absurdo do ponto vista humano, mas necessário como tema a ser discutido pelas artes de um país bárbaro.\nO escritor Rubem Fonseca\nMarcelo Carnaval\nAo cortejar a violência física e suas cruezas, assim como o sexo à flor das peles, Fonseca mostra também que nem toda história precisa ser justificada por traumas de outrora — recurso que a gente tanto usa para romantizar personagens vacilões. Coisas acontecem porque sim, e pronto, sem mimimi. Vida que segue.\nRealidade inquietante\nOs contos tão urbanos de Fonseca chegavam à tona num momento culturalmente rico que bambeava entre revoluções no comportamento e retrocessos políticos que descambariam no golpe de 64. Mais que isso, zombavam de uma literatura já modorrenta.\nFonseca mostrou-se, então, não exatamente como um jovem aspirante a escritor, e sim um escritor completo. Ao comentar “Os prisioneiros”, um dos maiores críticos literários do país, Wilson Martins (1921-2010), registrou que “a realidade do sr. Rubem Fonseca é inquietante, ou, pelo menos, ele sabe mostrar o que existe de inquietador sob as aparências exteriores da realidade”.\nMartins foi bem mais arguto do que o editor que anos antes recusou — e perdeu! — os contos apresentados a ele pelo jovem Fonseca. A recusa baixou a bola do escritor, que deixou de lado o desejo de publicar os contos que lapidava desde os anos 1940. Foi tocar a vida.\n“Carioca” desde 1934, quando a família se transferiu para a então capital federal, Fonseca se formou em Direito, tentou emplacar como advogado, desistiu e passou no concurso para a polícia. Nunca foi delegado, como reza a lenda — mas foi comissário, por não mais que seis meses, em São Cristóvão, na Zona Norte da cidade, nos anos 1950. Caiu fora porque não havia interlocução possível com seus pares. Acabou tornando-se executivo da Light, e lá se criou.\nRubem Fonseca na Praia do Leblon, anos 1970: paixão pelo Rio desde que a família saiu de Juiz de Fora, em 1934\nÁlbum de família\nMas há quem diga que a incursão policialesca pelo mundo real e seu submundo surreal ficou entranhada no seu imaginário a ponto de direcionar sua obra por décadas a fio. Não dá para contestar essa ideia.\nSão muitos os exemplos da desvarios plausíveis na prosa de Fonseca. Pegue-se o conto “Passeio noturno - Parte I”, do livro “Feliz ano novo” (1975), e a desconcertante história de um sujeito do bem que gosta de relaxar dando voltinhas de carro noite adentro, fazendo coisas muito feias (mas sem spoiler aqui).\nDiga-se que, caprichado em cenas de violência, sexo e conflitos de classes, “Feliz ano novo” foi censurado pelo governo militar — ajudando muito a reforçar a fama de escritor que incomodava a ditadura.\nOriginal do conto 'Feliz ano novo', de Rubem Fonseca\nDivulgação\nE foi assim que Fonseca ganhou seu espaço na literatura brasileira: incomodando, mas com qualidade. Seus romances, a partir de “O caso Morel” (1973), seguiram a linha e se mostraram abrangentes o bastante para gerar filmes para o cinema ou séries para a TV. “A grande arte” (1983), por exemplo, ganhou o mais tradicional prêmio literário do país, o Jabuti, e uma versão para as telonas, assinada por Walter Salles, em 1991, e “Agosto” (1990) tornou-se série na TV Globo em 1993.\nNo fim das contas, Fonseca ganhou seis vezes o Jabuti; em 2003, recebeu os prêmios Juan Rulfo e Camões; e, em 2015, o Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.\nEm 2020, a menos de duas semanas de completar 95 anos, Fonseca saiu de cena. Na verdade, nem gostava de aparecer em público. Mesmo com seu valor amplamente reconhecido pelos leitores e pela crítica, sempre preferiu ficar longe dos holofotes e das entrevistas. Não por timidez ou falta de vaidade. Pelo contrário, era bastante consciente do seu papel na literatura, tinha orgulho da sua obra — e nem poderia ser diferente.\nEfeméride\nPara marcar os 100 anos de nascimento de Fonseca, a editora Nova Fronteira está lançando uma caixa com todos os seus contos publicados, além de dois inéditos garimpados pela filha, Bia Fonseca Corrêa do Lago, no baú do pai. Produzidos na década de 1940, são contos menores (tanto que nunca tiveram espaço nos livros), mas têm lá a grife do jovem escritor. A caixa será vendida somente na Amazon.\nTambém está prevista a publicação, até o fim de ano, de uma fotobiografia de Fonseca. O material está sendo organizado por Bia, que sempre se surpreende com as novidades guardadas pelo pai ao longo de tantas décadas.\nServiço\n‘Box Todos os Contos + 2 Inéditos’\nAutor: Rubem Fonseca. Editora: Nova Fronteira. Páginas: 2.096. Preço: R$ 399,90."
      }
    },
    "createdAt": "2025-05-11T07:54:17Z"
  }
}